Thursday, January 25, 2007

Da diferença entre Uff e Usp


A diferença é maior que situar a usp à direita...











Há um tempo atrás conheci uma menina paulista - eu morava no Rio - que fazia filosofia na fflch, era muito sabida e doida pela Marilena...

O que nos unia, na época, é que ela era doida por cerveja também. Um belo dia saimos pra beber e ela falava prosaicamente sobre vários assuntos até que começou a falar de Machado de Assis.

- então meu... o olhar, Capitu, ressaca e blábláblá.

Deixei que ela falasse um tempo, depois tive de interromper...

- escuta querida, todo este tempo que você passou lendo Machado de Assis, eu passei escutando Paralamas do Sucesso. De modo que se a prosa vai por aí, eu começo a ficar excluído. Que tal outro assunto?

Comecei a falar do Fluminense e ela pediu a conta.

Outro dia, influenciado, sem querer é verdade, por outra amiga, resolvi ler uns treco do Borges. Caí em depressão!

Agora vejo surgir os primeiros sinais de que a esperança retorna ao meu espírito. Ontem, apesar de jogar mal, o Fluzão despachou o Friburguense - morram de inveja Kachorrada!

Hoje, estava com um violão na mão e me perguntaram:
- o que você pretende fazer quando terminar o doutorado?

Lembrei da Rita lee... "eu só quero fazer parte de um backing vocal, e cantar o tempo todo tiubidulbaubau!". Mas... disse que gostaria de voltar pra Uff;

e lembrei de uma música, que não eu tocava tem tempos, que repetia ao final de cada refrão: Tchu ru ru tchururu ru ruru, tchu ru ru aaaaa; e descobri que, assim como houve um tempo em que preferia o Paralamas ao Machado, hoje ainda curto mais o Sui Generis do que o Borges (sei que os intelectuais vão querer me matar, né Lelê?).

Mas, enfim... aí vai a letra de una canción de Sui generis para lembrar de Alê, Lutito, Cris, Jack, Wilma, Tchelo, Jonhny, Ceci, Eriquita, Vivi, Lu, Nalu, Moniquinha, Tetê e... todo mundo (tenho que exercitar a memória pra escrever a parte de agradecimentos da tese, inda bem que a maioria é da USP e não é tão distante assim!).

Enfim... saudades são o primeiro sinal de que a esperança retorna...

"Canción Para Mi Muerte" de Sui Generis
"Hubo um tiempo que fue hermoso
Y fui libre de verdad
Guardaba todos mis sueños
En castillos de cristal

Poco a poco fuí creciendo
Y mis fábulas de amor
Se fueron desvaneciendo
Como pompas de jabón

Te encontrare una mañana
Dentro de mi habitación
Y prepararás la cama para dos
Tchu ru ru tchururu ru ruru, ru ru aaaaa

Es largar la carretera
Cuando uno mira atrás
Vas cruzando las fronteras
Sin darte cuenta quizás

Tómate del pasamanos
Porqué antes de llegar
Se aferraron mil ancianos
Pero se fueron igual

Te encontrare una mañana
Dentro de mi habitación
Y prepararás la cama para dos
Tchu ru ru tchururu ru ruru, ru ru aaaaa

Quisiera saber tu nombre
Tu lugar, tu dirección
Y si te han puesto teléfono
También tu numeración

Te suplico qué me avises
Si me vienes a buscar
No es porque te tenga miedo
Solo me quiero arreglar

Te encontrare una mañana
Dentro de mi habitación
Y prepararás la cama para dos
Tchu ru ru tchururu ru ruru, ru ru aaaaa (bis)"
...e a uff à esquerda!

Tuesday, January 23, 2007

Contra Lacan (só para registro)


Escrevi o texto anterior menos para me anunciar minha conversão ao lacanismo do que para desabafar. Desabafar um certo desespero, uma certa angústia, uma certa depressão inerente à fase (no sentido psicopatológico do termo) que estou passando; desabafar uma opinião acerca da verdade sobre nós mesmos e sua relação com as fantasias que criamos.

Entretanto percebi, muito mais pela perspicácia dos comentários que fizeram do que pelo conteúdo do texto, que ele tinha de certa forma a ver com as coisas que gostaria de pensar daqui pra frente. Então gostaria de aproveitar os comentários para registrar aqui algumas opiniões para que eu possa retornar a elas mais na frente.

Hoje em dia o tema da natureza humana, ou seja, da "verdade" sobre nós mesmos se define um pouco nos termos das relações que temos com os outros, ou com o Outro. No entanto este Outro, que aí escrevemos com maiúscula, não tem nada a ver com o outro do Lacan. Segundo Levinas tem mais a ver com o Deus de Descartes.

A idéia é complicada e detalhá-la seria maçante. Então resumamos o que interessa: o outro é uma idéia sem ideatum. Em termos mais psis, o outro é aquilo - ou aquele - que resiste ao nosso impulso destrutivo e que, portanto, não podemos determinar absolutamente. Diante de seu corpo - que está lá, contemplamos seus gestos - que não sabemos de onde vêm; diante de seu ser - que nos interessa, fascinamo-nos por seu desejo - que parece se interessar por nós.

Para nos tornamos o que somos, a saber, Eus, destruímos os objetos. Porém, alguns objetos de nossa experiência sobrevivem; e estabelecemos com eles uma relação mágica, amorosa, saímos de nossa realidade quando estamos na sua presença.

Aqueles que destruímos, fazemos deles objetos, dejetos, corpos mortos, inertes, sem sentido. Objetos lacanianos!

Aqueles que sobrevivem, fazemos deles almas, ânimas, belos, vivos; e pagamos o preço de nos desfazer, a nós mesmos, para dar-lhes vida. É neles que encontramos Deus. São eles também que consideramos humanos.

Agora retornemos aos comentários:

Tem razão Beatriz, é o negócio do desejo do desejo do outro que atrapalha (além da mardita cachaça, é claro!). É aí que os perdemos. Quando casamos, fazemos de uma namorada, uma esposa. Intermediamos a relação mágica que temos com nosso amor, pela instituição que pretende regular o desejo do outro. Em outras palavras, destruímos sua magia, sua vida, substituindo-as por regras. Regras através das quais, em última instância, nos damos o direito de considerá-lo nosso. Lógico que isso não se refere a todo casamento, no sentido real em que as pessoas se casam por aí. Mas àquilo que ele se torna quando se pretende institucional.

Neste sentido, Érika, me parece que felicidade e instituição são contraditórios. A instituição, o casamento no exemplo anterior, é a morte do outro. Do outro neste sentido mágico que nos faz feliz, que nos põe a fantasiar. Permanecemos na tristeza do Euzinho dando nomes aos nossos amores.

Não sei se este é o sentido da sua pergunta, mas não lhe parece isso? Não sei se é possível ficar absolutamente sozinho, mas concordo com o Tom (Jobim) que é impossível ser feliz sozinho. Pois, quando colocamos instituições entre nós e os outros, ficamos... sós. Perdemos o compromisso de nos enamorarmos a cada vez, posto que ganhamos a segurança de que o outro deve estar lá aonde a lei institucional determinou!

Já idéia de vazio no sentido lacaniano é mesmo impossível, mas não decorre-se disto, como pretende Lacan, que a experiência seja impossível. O fato de que nossa verdade coincide, de certo modo, com uma fratura, não que dizer que não somos nada ou que o outro não é nada. Acho que talvez possamos pensar, por mais que isso pareça estranho, que somos completos na nossa parcialidade.

Não sei se podemos considerar isso oriental, nem se podemos nos orientalizar. Se eles são melhores do que a gente, não implica necessariamente que possamos importar seus ensinamentos e aplicá-los ao nosso modo de ser. Não seria o contrário? Não é nossa a responsabilidade de criar respostas para os problemas que nós inventamos?

De qualquer forma, concordo com a idéia de que às vezes vivemos nossa incompletude com euforia e que, às vezes, damos a ela o nome de depressão. Mas o fato de que isso seja um nome não exclui o outro fato, presente e real, de que por muitos momentos estamos efetivamente tristes.

É isso, valeu o comentário de vocês, e espero que vocês nem leiam estas respostas, pois odeio aborrecer os outros. Mais interessante é fantasiá-los!

Prometo parar de filosofar sobre estas questões "profundas" e inúteis nos próximos textos. Até porque já sinto indícios do retorno da fase maníaca!

Friday, January 19, 2007

Poetas e Mulheres


Sei que é batido, mas também inevitável:

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

Isso é algo que concerne aos poetas, mas também ao gozo d'A Mulher. É que tanto na poesia, quanto no sexo, a verdade coincide com a fissura, com o buraco, com a cratera (pra usar um termo da moda). A verdade é o vazio, um vácuo, um buraco negro que suga nossos desejos fazendo-os explodir em múltiplas fantasias. Orgásmos múltiplos? Não, múltiplas fantasias. Somos feitos de saber, nós mesmos não temos nada a ver com o prazer no sentido real. Somos vazios, inventamos saberes para eleger alguns como verdade. Assim como sentimos o prazer que elegemos de nossos saberes, fingimos a dor para que ela possa também ser sentida. Somos poetas e também mulheres, mas vivemos no sentido inverso. Falamos e desejamos para esquecer da nossa verdade.

Caraca, vou acabar virando lacaniano!

Os poetas como as mulheres têm vários nomes. Qual é verdadeiro? Jocasta era mãe e esposa. Helena era de vários lugares. Alice era Jane. Daniela era Pauliana. E a Cuca era a Cuca. Porque é preciso dar nomes às putas? Porque não os damos aos bois?

Nomes que se grudam a uma essência inventada. É aí que as perdemos. Perdemos quando queremos saber além do que elas nos permitem inventar. Portanto, deixemo-las fingir para que possamos criar. Criação, fantasia, reverie, entstellung. Eis os nomes das nossas verdades!

Porque todo mundo anda deprê?

Saturday, January 13, 2007

Bento Prado


Morreu o Príncipe filósofo do Brasil... nosso pensamento ficou mais triste

Thursday, January 11, 2007

Beatriz Viterbo, ou o amor de Borges e o nosso...

Outro dia escrevi um post em que falava de uma história que me foi narrada - contada ou cantada - por uma musa, Beatriz. Como os amigos que visitam este blog preferem, em geral, me enviarem emails com seus comentários, ao invés de deixá-los por aqui mesmo, a pessoa que efetivamente comentou os textos até hoje foi... Beatriz: Beatriz Viterbo. Eis que graças a Beatriz e ao diabo da tese que eu tenho que escrever me deparei de novo com uma coisa que me perturba há muito tempo: EU... e minhas certezas passageiras.

Bom, alguns de vocês - aqueles que freqüentam o blog da Gi e as páginas de Borges - já devem saber. Para os demais, que fique claro: Beatriz Viterbo murió en una candente mañana de febrero de 1929, nas linhas do "Aleph", de Jorge Luis Borges.

Quanto à continuação do título, outros de vocês também devem saber: há algum tempo atrás andei escrevendo algumas abobrinhas sobre o amor. Tratava-se de algumas linhas sobre uma frase atribuída a Gabriel Garcia Marques: "Amo-te não pelo que tu és, mas pelo que me torno quando estou ao teu lado".

Para que embarquemos todos na mesma nau, recuemos por um instante: há uns dois anos atrás, recebi uma destas mensagens eletrônicas que têm umas imagenzinhas e umas frases bonitinhas. Esta me havia sido enviada por uma amiga - neste tempo já um pouco distante, mas que tinha sido bem próxima. Tinha umas dez imagenzinhas e frases de amor atribuídas a Garcia Marques - não me perguntem pela referência ou pela autenticidade da atribuição, isto importa pouco.

O que me intrigou foi a tal frase de número 7: Amo-te não pelo que tu és, mas pelo que me torno quando estou ao teu lado. Achei a frase absolutamente egoísta, narcisista e nada a ver com o amor do qual eu esperava ser o objeto para aquela amiga.

Como assim? Você me ama por você, não por mim?

Mas como vocês sabem, o amor tem destas coisas... quando não se pode obter dele a declaração que se deseja, torce-se a declaração e que se dane a intenção do sujeito. Imediatamente inventei de escrever um texto - que logo enviei para discutir com meus colegas de pesquisa da universidade (inconvenientes de não ter um blog). Lá eu torturava Freud, em Zur Einführung des Narzissmus, para que ele confessasse que minha amiga havia dito o que eu queria escutar. Concluí solenemente: O amor é um tornar-se. Amo-te não pelo seu ser, mas pelo meu devir, que é por ti! Achei tão maneiro que estou acabando de escrever uma parte da minha tese que trata exatamente disso. Eis aí talvez a única vantagem de um amor platônico e de se escrever uma tese: Pode-se enfiar em qualquer entrelinha o que a gente quiser pensar.

Tudo ia bem até aparecer Beatriz, mais precisamente, até Borges ver o Aleph. O que ele viu? TUDO! Bom vamos por partes, o que já é parte do problema...

Do que trata o Aleph? Em princípio de Beatriz Viterbo, um amor que se foi; e de um Eu - O autor - que deve permanecer para fazê-lo durar.

Quando Beatriz morreu - diz ele - noté que las carteleras de fierro de la Plaza Constitución habían renovado no sé qué aviso de cigarrillos rubios; el hecho me dolió, pues comprendí que el incesante y vasto universo ya se apartaba de ella y que ese cambio era el primero de una serie infinita. Para evitar o inevitável ele conclui: - Cambiará el universo pero yo no, pensé con melancólica vanidad; alguna vez, lo sé, mi vana devoción la había exasperado; muerta, yo podía consagrarme a su memoria, sin esperanza, pero también sin humillación.

Eis aí que a permanência do Eu é justamente a garantia da duração do amor, sem o inconveniente de ter que lidar com a humilhação da presença. Não era desta permanência que eu pretendia gozar enquanto estava falando de devir? Idiota!

No final do conto, o devir se faz imperativo: "Nuestra mente es porosa para el olvido; yo mismo estoy falseando y perdiendo, bajo la trágica erosión de los años, los rasgos de Beatriz".

Entre o amor e o devir, o Aleph! Mais exatamente: o ver - o acontecimento que mostra a mediocridade de toda memória, de toda a linguagem e mesmo da literatura. Ah... a literatura que deveria assugurar a imortalidade ao nosso Eu. Beatriz - a nossa, não a de Borges - escreveu outro dia que desejaria tornar-se um manuscrito de Aristóteles: "aí vou durar pra sempre, todo mundo vai me amar e eu não precisarei dizer que amo ninguém".

Já Borges remete, imediatamente, à mediocridade da literatura, as elaborações de Carlos Argentino: "Tan ineptas me parecieron esas ideas, tan pomposa y tan vasta su exposición, que las relacioné inmediatamente con la literatura".

É justamente quando vê o Aleph, que todos estes "recursos" ou "faculdades" do Eu revelam sua vacuidade: "Arribo, ahora, al inefable centro de mi relato, empieza aquí, mi desesperación de escritor. Todo lenguaje es un alfabeto de símbolos cuyo ejercicio presupone un pasado que los interlocutores comparten; ¿cómo transmitir a los otros el infinito Aleph, que mi temerosa memoria apenas abarca? (...) Lo que vieron mis ojos fue simultáneo: lo que transcribiré sucesivo, porque el lenguaje lo es".

É senhores... o amor pode desejar o que ele quiser, ser o que quiser, pois a memória e a linguagem torcem-se, distorcem-se e desfazem-se como o próprio desejo. Já ver, acontecer... isso não é para nós seres desejantes, lembrantes, falantes, narcísicos e egoístas.

Como no conto, depois da experiência, o Eu sempre retorna, não apenas para se vingar do outro, mas para constatar e verificar o que o devir desfez. Eis a tragédia de ser Eu: viver o acontecer como o que já não é!

Para terminar um toque de alento: a tese é defensável mesmo assim. Afinal, na academia tudo o que precisamos ser é lembrantes e falantes... e, de preferência, egoístas e narcisistas!