Friday, January 19, 2007

Poetas e Mulheres


Sei que é batido, mas também inevitável:

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

Isso é algo que concerne aos poetas, mas também ao gozo d'A Mulher. É que tanto na poesia, quanto no sexo, a verdade coincide com a fissura, com o buraco, com a cratera (pra usar um termo da moda). A verdade é o vazio, um vácuo, um buraco negro que suga nossos desejos fazendo-os explodir em múltiplas fantasias. Orgásmos múltiplos? Não, múltiplas fantasias. Somos feitos de saber, nós mesmos não temos nada a ver com o prazer no sentido real. Somos vazios, inventamos saberes para eleger alguns como verdade. Assim como sentimos o prazer que elegemos de nossos saberes, fingimos a dor para que ela possa também ser sentida. Somos poetas e também mulheres, mas vivemos no sentido inverso. Falamos e desejamos para esquecer da nossa verdade.

Caraca, vou acabar virando lacaniano!

Os poetas como as mulheres têm vários nomes. Qual é verdadeiro? Jocasta era mãe e esposa. Helena era de vários lugares. Alice era Jane. Daniela era Pauliana. E a Cuca era a Cuca. Porque é preciso dar nomes às putas? Porque não os damos aos bois?

Nomes que se grudam a uma essência inventada. É aí que as perdemos. Perdemos quando queremos saber além do que elas nos permitem inventar. Portanto, deixemo-las fingir para que possamos criar. Criação, fantasia, reverie, entstellung. Eis os nomes das nossas verdades!

Porque todo mundo anda deprê?

3 Comments:

At 7:02 PM, Blogger Gisele said...

Bom, a minha hipótese é de que todo mundo anda deprê porque todo mundo, como vc diz, não deixa de ser um buraco.
Uhuh... vc já é lacaniano, nego, isso passa no sangue! Veja, essa coisa do buraco me parece muito boa para refletir se acrescentarmos o desejo do desejo do outro. Esse sim, é um tremendo buraco...
bj!
obs: não li o comentário que vc excluiu, mas ainda lerei o e-mail que mandou!

 
At 12:04 AM, Anonymous Anonymous said...

Por que todo mundo anda deprê?

A felicidade institucionalizada é possível?

Preencher o vazio do outro até quando?

E a idéia do vácuo é possível?

Encontramos a completude durante quantas vezes ao dia? E perdemos outras tantas quantas?

Ficar sozinho é possível? É possível querer estar satisfeito ao invés de desejar Prosperidade?

Por que o mundo não fica oriental?
Orientemo-nos.

Porque todo mundo anda tão deprê mesmo ou é assim e isso nem chama depressão?

 
At 12:23 AM, Blogger Nih said...

Ainda bem que você (ainda) não virou lacaniano...
Juro que não falaria mais com você depois disso...

 

Post a Comment

<< Home