Saturday, December 30, 2006

A doce vida paulistana!


O Paulistano é um masoquista! Claro que não me refiro exclusivamente ao sujeito que nasceu em São Paulo. Este aí é um tipo que teve que aprender a ser masoquista. Mas paulistano mesmo é o cara que nasceu em outro lugar e escolheu morar em São Paulo. Neste caso o masoquismo é de natureza, não aprendido. É a única explicação plausível para um indivíduo que escolheu morar aqui.

Ontem voltando pra casa, no meio daquele aguaceiro, parei em um bar para me abrigar. Naturalmente pedi uma cerva, digo uma brêja, e fiquei ali esperando a chuva passar. Logo fiquei curioso acerca do motivo pelo qual aquele bar, sempre cheio nesta hora, estava tão vazio. Ora, era impossível chegar em casa e, portanto, desanimador tentar. Onde estariam as pessoas então? Será que teriam ficado presas no seu local de trabalho? Se fosse isso, um paulistano teria achado bem agradável. No entanto, eles estavam fazendo uma coisa muito mais legal. Bastava olhar pela janela do bar e estavam todos lá. Estavam todos parados no engarrafamento!

O temporal para o paulistano é uma dádiva de São Pedro. Dia de temporal, ele é até capaz de sair mais cedo do trabalho, o que para um paulistano só pode acontecer em datas muito especiais. Eis que o dia de temporal é uma destas datas. É um dia que ele pode ficar gozando mais umas duas horas de seu santo engarrafamento.

A disposição de um paulistano para o trabalho já é por si só uma faceta de seu masoquismo. Fico imaginando que deveria ser legal ser playboy em São Paulo. Imagina se você tivesse muito dinheiro para pagar esta gente doida para trabalhar. Você encomendaria um avião para uma meia dúzia de paulistanos e na semana seguinte eles trariam o avião pronto e ainda dariam um jeito para estacioná-lo na sua garagem. A disposição deste povo para trabalhar é tão incrível que eles seriam capazes de, em pouco tempo, fabricar todo tipo de coisa que fosse capaz de faciltar a vida das pessoas.

Mas não a deles! Tudo que o paulistano faz, todo fruto de seu trabalho, tem o objetivo, cuidadosamente calculado, de dificultar sua vida. Basta ver o exemplo destas obras que fazem para facilitar o tráfego. O objetivo é justamente o oposto, é travar o tráfego mais ainda! A obra é um fim em si mesmo, quando fica pronta é preciso logo inventar outra maior para anular os eventuais benefícios da que terminou e, se possível, complicar mais um pouquinho.

Quando mudei para o bairro de Pinheiros a obra da vez era o "corredor" Rebouças. Descobri em pouco tempo que era mais rápido chegar à USP a pé do que de ônibus. Terminada a obra, imaginei: ufa, agora este trânsito melhora! Que nada, inventaram um buraco enorme no meio do largo da Batata. Assim puderam desviar o trânsito da avenida Faria Lima, para a rua Cunha Gago. O trânsito de cinco pistas seria desviado para uma rua em que passa somente um carro por vez. Quer gargalo melhor que esse?

Já tinha reparado esse masoquismo na relação do paulistano com o futebol. Alguém acha que algum corinthiano comerou o campeonato brasileiro do ano passado? De jeito nenhum! Eles comemoraram foi a classificação para a libertadores. Ora, Corinthians na libertadores, quer sofrimento maior que este?

Bem, mas podem me falar dos São paulinos, que afinal têm ganhado tudo. Mas vocês já conversaram com algum? O torcedor do São Paulo quando perde um campeonato diz: "não estávamos mesmo interessados, o São Paulo não tem concorretes neste campeonato, preferimos guardar nossas forças para o que realmente interessa". E quando ganha diz: "não teve graça, o São Paulo não tem concorretes neste campeonato e blá blá blá". O torcedor do São Paulo acha futebol a coisa mais chata do mundo e, no entanto, está sempre lotando o Morumbi. Só pode ser pra se chatear, né?

Imaginem uma rodada do campeonato carioca que terminasse assim: Flamengo 4 X 3 Bonsucesso; Fluminense 1 X 0 Olaria; Vasco 2 X 1 Madureira. Na segunda de manhã teria de ser ponto facultativo. Os torcedores destes times estariam todos embreagados com tamanhas goledas impostas a times de tanta tradição. Estariam a esta altura convictos de que torcem para o melhor time do mundo. O Botafogo? Bem teria sido Botafogo 1 X 4 Friburguense, mas ser botafoguense é outro tipo de masoquismo, até mais patológico, que deixamos para comentar outra vez.

Mas o mais impressionante nestas chuvas dos últimos dias é acompanhar o letreiro eletrônico que fica no alto do prédio do Unibanco próximo a ponte Eusébio Matoso: 100, 120, 130, 160 Km de... L E N T I D Ã O! Todo dia tem recorde, que é orgulhosamente anunciado. Vai gostar deste troço lá no raio que o parta (ops, cuidado com as idéias!). Melhor que isso só o placar eletrônico do Parque Antártica no último jogo que o Palmeiras fez lá na temporada. O time tomava um chocolate de 4 do Inter e o placar dizia: "Apóie o seu time!" Deve ser porque o time estava fazendo o seu papel. Afinal de contas, em São Paulo, é disso que o povo gosta!

1 Comments:

At 3:02 PM, Anonymous Anonymous said...

É Roberto, estou contigo e não abro! Somos uns masoquistas, pelo menos temporários! Agora... "Robby", pô tu tá deprê mermo, meu irmão!!!
Bacana seu blog, vou ficar visitando de vez em quando. Quem sabe assim a gente não retoma nossas conversas. Um abraço,

Érico.

 

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